terça-feira, 23 de setembro de 2008





Ataque chavista ao canal Globovisión de Venezuela e Carta aos democratas da América

Por problemas de ordem pessoal não pude atualizar o Notalatina nesses últimos dias e hoje, mesmo sem condições, faço mais uma edição porque a situação na Bolívia ainda continua caótica e repleta de arbitrariedades, autoritarismo e crimes por parte do governo. Em meio à crise Evo Morales “parou a guerra” para ir ao Panamá receber um título de “Doutor Honoris Causa”, bem ao estilo Mont Pyton. Quando eu era menina e ouvia dizer que alguém recebeu um título desse, ficava imaginando o feito ou as qualidades excepcionais dentro de um campo do saber que justificavam a outorga da comenda. E, de fato, os que naquela época eram homenageados com tal honraria eram pessoas notáveis. Hoje, ao contrário, qualquer zé mané, de preferência comunista, recebe tal título. Se tudo isto não tivesse propósitos criminosos, eu diria que é surrealista.

Pois bem, o cocalero presidente Morales rumou para o Panamá onde o presidente Torrijos tem se esmerado em deixar cair a máscara de democrata, bajulando trastes com pendores de ditador como Chávez e agora Morales. Enquanto isso, foi negado o habeas corpus ao governador Leopoldo Fernández que continua preso e o Brasil, como era de se esperar, negou asilo político à família de Fernández. Claro, ele não é terrorista, não compartilha da idéia de implantar um regime comunista em seu país, daí não receber o menor respaldo dos membros do Foro de São Paulo, do qual Lula é membro fundador junto com Fidel Castro, não custa nada relembrar.

A esse respeito, Alejandro Peña Esclusa explica com clareza neste vídeo, concedido a um canal de televisão de Santa Cruz, na Bolívia, onde esteve acompanhando a situação de perto, e faz um alerta ao povo boliviano para que se mire no exemplo da Venezuela e reaja. Ele aproveita também para pedir perdão aos bolivianos pela interferência de Chávez em problemas internos de seu país, numa atitude de extrema dignidade e hombridade, caraterísticas marcantes em Esclusa e totalmente ausentes no Chapolim de Miraflores.

Além de interferir nos problemas internos dos países que dependem dos petrodólares venezuelanos, Chávez, em permanente surto psicótico agora acusa o diretor da Globovisión, Alberto Federico Ravell (na foto acima), de planejar seu “magnicídio”. Ocorre que a Globovisión está na mira deste delinqüente desde que ele fechou o canal RCTV em maio do ano passado e agora arranjou essa desculpa para atacar mais um dos seus opositores. Nesta madrugada, um bando que se identificou como “Grupo de Trabajo La Piedrita” lançou bombas lacrimogênas contra a sede da Globovisión e espalhou panfletos pelas ruas. Os panfletos declaram guerra à Globovisión e assinalam como “objetivo militar”. (Foto dos veículos utilizados na ação depredatória, acima).

A esse respeito, Lina Ron, uma deputada chavista do PSUV que é completamente desequilibrada, disse que Ravell e a Globovisión “são objetivos militares” e pediu ao governo que lhe tire a concessão. Para Lina Ron, “a Globovisión provoca dano e calúnia ao povo” acrescentando que o canal é “terrorista”. Ora, dona Ron, mas e a tv Al Jazeera que é reproduzida pela TeleSur, é o quê? Para esta desequilibrada chavista a Globovisión faz parte da conspiração para assasinar Chávez e disse que o tal bando “La Piedrita” “tem a liberdade de transitar por onde queira” e que se trata de um “grupo valente e decidido”. Mais uma vez dona Ron defende o “direito” de suas brigadas depredarem o patrimônio privado, negando, ao mesmo tempo, o direito do canal Globovisión de informar aos telespectadores as patifarias e crimes cometidos por Chávez e seus apaniguados.

Para Ravell, entretanto, o ataque contra o canal de televisão “estava por vir, pela linguagem de violência empregada por alguns funcionários do Governo, como o governador de Miranda, Diosdado Cabello e o deputado Mario Isea”. Ravell pediu ao governo e à Procuradoria para investigar o ocorrido – que, como aqui no Brasil com os vândalos do MST, vai acabar em NADA – alegando que “isto não fará o canal afastar-se do caminho eleitoral, nem falar da delinqüência, da inflação e da falta de governo”. Segundo Ravell, o canal inicia hoje a campanha eleitoral “com lágrimas nos olhos”, embora esteja seguro de que “haverá lágrimas de alegria e democracia no próximo dia 23 de novembro”, data das eleições. Em sua opinião, “é isto que aborrece os que vêem seu final eleitoral próximo”.

E em seguida o Notalatina divulga uma importantíssima carta escrita por Alejandro Peña Esclusa aos democratas da América que deve ser lida e refletida com seriedade, pois sintetiza tudo o que vimos falamos e apresentando em vídeos e áudios durante a cobertura deste evento na Bolívia, podendo ser lida também em espanhol clicando no título.

Fiquem com Deus e até a próxima!

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Carta aos democratas da América: a Bolívia necessita de nossa ajuda



Caracas, 23 de setembro – Enquanto se escrevem estas linhas, uma das operações mais sofisticadas e perversas da história ibero-americana está sendo levada a cabo contra a Bolívia. Urge que todas as forças democráticas da região acorram em sua ajuda para evitar uma tragédia nesse país. Os fatos são os seguintes:

Em 10 de agosto de 2008 realizou-se um referendo que ratificou o mandato do presidente Evo Morales e da maioria dos prefeitos (governadores) opositores. Morales interpretou – ilegalmente – sua ratificação como uma carta branca para impor unilateralmente sua Constituição, de corte totalitário, e para desconhecer as autonomias departamentais (estaduais) que se haviam consquistado este mesmo ano, com o voto majoritário do povo boliviano.

Atentando contra a autonomia, Morales confiscou os benefícios provenientes do Imposto Direto dos Hidrocarbonetos (IDH), que correspondem às regiões, e anunciou uma consulta para referendar sua Constituição. Como era de se esperar, o povo saiu às ruas para protestar. Evo Morales ordenou reprimir os protestos, ocasionando numerosos mortos e feridos.

Sentindo-se encurralado pelos efeitos políticos do massacre, Morales pediu ajuda a seus aliados internacionais, particularmente Hugo Chávez, que ofereceu o envio de armas e tropas venezuelanas para sustentar militarmente o governo boliviano. Paralelamente, convocou-se uma reunião urgente da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), cujos integrantes – exceto um – pertencem ao Foro de São Paulo, organização política da qual Evo Morales também faz parte.

Os integrantes da UNASUL só escutaram a versão de Evo Morales, negando-se a receber os governadores opositores, apesar de que eles também foram ratificados pelo povo boliviano no mesmo dia que Morales. Em conseqüência, emitiram uma declaração parcializada, enviesada e fraudulenta, sobre a crise boliviana, culpando a oposição de tentar um golpe de Estado e de gerar violência, quando o verdadeiro culpado é Morales. Em resumo, outorgaram ao presidente boliviano uma licença para continuar matando e para impor seu projeto totalitário.

As mesas de diálogo que foram acordadas na reunião da UNASUL são uma farsa, porque obrigam a oposição a submeter-se aos desígnios do governo, sob pena de serem julgados como golpistas e/ou massacrados pelos grupos para-militares armados que se encontram em Cochabamba e Santa Cruz.

Uma mostra da parcialização e da injustiça existentes é o encarceramento do governador de Pando, Leopoldo Fernández, que foi acusado injustamente pelo governo das mortes ocorridas em seu estado, em que pese existirem inúmeras provas da responsabilidade do oficialismo nesses fatos. Tudo indica que quem ordenou a prisão de Fernández nem sequer foi Evo Moralaes, senão Hugo Chávez, que está intervindo flagrantemente nos assuntos internos da Bolívia.

A OEA tampouco garante uma mediação neutra, porque Chávez controla 21 dos 34 votos desse organismo multilateral. Insulza não se comporta como Secretário Geral da OEA, senão como candidato à presidência do Partido Socialista do Chile, organização que também pertence ao Foro de São Paulo. Quanto a Lula, mantém uma atitude aparentemente moderada, porém também exonera Evo Morales e culpa a oposição pelo ocorrido, o que não é de se estranhar, porque ele é o principal fundador do Foro de São Paulo.

O tratamento injusto e sem consideração que os aliados de Evo Morales – investidos como presidentes – dão à oposição boliviana não ajuda a resolver a crise, senão que a agrava, pondo mais lenha na fogueira. Por isso, urge constituir um Grupo de Amigos da Bolívia, conformado por cidadãos de toda a América, que sirva para contrabalançar a nefasta intervenção da UNASUL.

Fazemos um chamado a todas as forças democráticas da região a interessar-se pelo tema boliviano, a indagar qual é a realidade, a escutar todas as partes do conflito e a opor-se à ingerência indevida de Chávez e seus aliados nos assuntos internos da Bolívia.

Alejandro Peña Esclusa – Presidente de Fuerza Solidaria

Comentários e Traduções: G. Salgueiro